segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Encontro das Batucadas Feministas Brasil

O encontro de janeiro das Batucadas Feministas aconteceu entre os dias 24, 25 e 26 na chácara Ravel Camping no conjunto Vingt Rosado, Bairro Costa e Silva. Contou com a participação de 26 batuqueiras de 04 municípios e vários grupos de meninas urbanas e rurais da região Oeste.
O encontro iniciou com uma apresentação das participantes e de suas expectativas. Para isso foi utilizado a dinâmica adivinhe o que eu penso. Colocamos o nome de todas as participantes em balões de cores iguais e em seguida dançamos sobre uma chuva de balões. Depois do término da música estouramos os balões e descobrimos um nome, o nome de uma das batuqueiras. A proposta era tentarmos imaginar quem era a companheira e qual sua expectativa para o encontro.
Dentre as expectativas para o encontro citaremos algumas: aprender e repassar a experiência para o grupo; contribuir mais com o seu grupo; trocar experiências entre as batuqueiras; matar a saudade das amigas da batucada.
Depois de nos descobrirmos e revelarmos nossas expectativas formamos algumas comissões para dividirmos as tarefas domésticas durante os três dias do encontro. Formamos 04 comissões: limpeza do local, limpeza da louça e da cozinha, animação e alimentação.
Agora as tarefas definidas e divididas, iniciamos um ensaio geral da Batucada Feminista que ficou sob a responsabilidade de Risoneide do grupo Sonhadoras de Lilás. O grupo se dividiu em três subgrupos para conversar sobre o que seria ritmo para cada uma e se o que tocamos é um ritmo livre ou não e a partir disso fazer uma criação própria da imaginação. A discussão e a criação de novos ritmos e toques foi bastante empolgante e envolvente.
O grupo definiu como ritmo uma criação da natureza, pois muitas vezes vamos criando os sons a partir do que ouvimos ao nosso redor. Em relação se nosso ritmo é livre ou não maioria dos grupos definiram que mesmo não tendo uma rigidez e “partitura”, mas estamos presas a contagens e coordenação de uma pessoa que nos diga o que temos que tocar em determinados momentos e mesmo nos nossos encontros.
Fruto da imaginação coletiva dos grupos forma muitas criações livres, junção de ritmos e musiquinhas, além dos ritmos já conhecidos como o Funk, Maracatu, Afoxé, Samba Reggae, Coco, terminando com uma grande Ciranda juntando mãos, pés, tambores e baquetas.
Às 13h saboreamos o almoço feito por Nayara (grupo do CAIC em Mossoró), Uberlaine (Upanema). E, em seguida fomos tomar banho e pular na piscina.
A tarde, às 15h, iniciamos as oficinas sobre dois temas: Liberdade e Sexualidade. Facilitaram as oficinas Adriana do Centro Feminista e Lidiane do Grupo Sonhadoras de Lilás.
Na oficina sobre Liberdade iniciamos colocando várias tarjetas com frases do tipo:
LIVRE-SE
LIVRE-SE
LIVRE-SE
e depois tarjetas com frases:
LIVRE-SE DOS CABELOS REBELDES
LIVRE-SE DAS ESTRIAS
LIVRE-SE DAQUELES PNEUZINHOS
LIVRE-SE DOS PELOS INDESEJADOS
LIVRE-SE DOS SEIOS GRANDES
LIVRE-SE DOS SEIOS PEQUENOS
LIVRE-SE DA BARRIGUINHA
LIVRE-SE DA MENSTRUAÇÃO
Pedimos para elas andarem no espaço e sentirem essa liberdade, após voltarmos desse corredor da “liberdade” fomos conversar sobre o sentimento de cada uma em relação a essas frases no seu dia-a-dia:
- Desejo de fazer
- Pressionada a fazer pelas propagandas e pelas amigas
- Sente-se humilhada
- Reprime os desejos

Em seguida dividimos o grupo em dois subgrupos e pedimos para que pudessem discutir e apresentar como essa liberdade aparece no nosso cotidiano.
O primeiro grupo apresentou uma situação em que quatro amigas conversavam sobre dieta e estrias e praia, enquanto isso passava uma outra menina na rua e elas comentavam sobre a forma como ela era desleixada com a beleza, pois estava muito gorda.
Já o segundo grupo apresentou uma situação sobre várias imposições impostas diariamente para as mulheres. O cenário era na casa de uma das meninas e se preparavam para ir a uma festa. Uma das amigas fazia depilação nas pernas, axilas, virilhas e sobrancelhas, outra apenas pintava os pelos das pernas e braços e era ignorada e pressionada pelas amigas, estas alegando ela não conquistaria nem um menino, pois estes não teriam nem onde pegar com tanto “mato” no seu corpo e esta pressionada faz depilação pela primeira vez. Outra queixa se dos cabelos e logo uma aprece com uma pranchinha para resolver o seu problema, outra amiga não vai para a festa porque está menstruada e logo outra amiga fala de uma injeção que passa três meses sem menstruar, depois toma outra e outras e, assim nunca mais menstrua.
Depois das apresentações dos grupos fizemos uma discussão sobre o que de fato é essa liberdade e quem de fato nos diz que temos que nos livrar dos cabelos, das gorduras e até mesmo de fenômenos que diz respeito sobre nossa saúde, a menstruação, é um exemplo.
No debate fomos percebendo que muitas das coisas que fazemos não são para agradar a si e sim ao outro, ao homem, ao namorado e a pressão das amigas. “Uma vez fiquei um tempo sem me depilar, pois me depilo a cada dois dias, e não me dei conta, foi quando minha irmão me falou que eu estava desleixada e que eu ia acabar perdendo o namorado, imediatamente me depilei, me depilei toda, pernas, axilas, virilha, tirei a sobrancelha” comenta uma das meninas falando sobre a imposição e o fazer para o olhar do outro.
Muitas associa a depilação a limpeza, foi quando fizemos uma reflexão de quando surge a depilação e os conceitos de limpeza, pois o nosso corpo tem mecanismos de proteção e se tem pelos em determinados lugares, tem uma função que é de proteger o corpo.
Outras colocavam que faziam escovinha não para agradar o namorado ou porque a propaganda mandava, mas por que se sentia bem. A partir dessa colocação e outras em relação a bem-estar fizemos uma discussão do que realmente é esse bem está e porque sempre está relacionada a uma imposição do mercado e sempre é imposta às mulheres.
Na oficina sobre sexualidade veio muito a tona as relações afetivas onde os meninos que define como têm que ser as relações, as imposições de comportamento e padrão de vida para as mulheres. E como as mulheres se submete a algumas situações de dominação como, por exemplo, ficar com um menino só por que lhe deu uma carona ou pagou um lanche, uma cerveja.
Após as oficinas fizemos um debate livre juntando os dois temas fazendo uma reflexão até que ponto o que fazemos é liberdade e questionamos bastante aí tal liberdade sexual, que somente os homens usufrui, pois muitas mulheres ficam presas seja pelo preconceito, pela discriminação ou mesmo por uma gravidez indesejada.
A noite foi a vez experimentarmos o jantar preparado por Luiza e Jocélia, do município de Upanema.
No segundo dia do encontro acordamos com o cheiro do café preparado especialmente por Cilene e Nara, do assentamento Mulunguzinho.
As 8h30min reiniciamos com as discussões temáticas. Uberlaine - da comissão de jovens do Sindicato dos/as Trabalhadoras/es Rurais de Upanema – fez uma dinâmica com um caleidoscópio que nos trouxe a reflexão da diversidade das mulheres na Marcha e a importância de convivermos e respeitar as diversas mulheres e pessoas que querem construir um mundo, igual. Nesse momento tivemos uma conversa com o intuito de rediscutir alguns acordos que foram descumpridos, melhorar e fazer funcionar algumas comissões que não funcionaram bem no primeiro dia.
Em seguida Conceição Dantas da Executiva Nacional da MMM facilitou uma oficina sobre Práticas Feminista, que discutiu sobre o que é feminismo e nossas práticas diárias enquanto militantes feministas.
Primeiramente pedimos para cada menina colocar em uma tarjeta o que seria feminismo para ela. Em seguida circularam na sala e se agruparam por diversidade das definições, ou sejas, os três grupos formados tinham entre os seu membros opiniões diferentes sobre o que seria o feminismo.
Em seguida organizaram a apresentação de forma super-criativa. O primeiro apresentou uma entrevista feita meio a uma passeata de mulheres. A definição sobre feminismo pelo grupo foi: a luta e a força entre as mulheres e a guerra contra o machismo, terminando com uma batucada.
O segundo grupo apresentou em forma de programa de auditório e definiu como feminismo: uma palavra versátil, uma luta que envolve várias mulheres em busca de conquistas e a luta entre as mulheres e é uma luta que tem que está presente no nosso dia-a-dia, no entanto é mais fácil ser feminista quando estamos unidas como num encontro como esse da batucada. Só assim seremos vencedoras! O programa de auditório terminou com uma apresentação da batucada feminista tocando o funk da Marcha “tá tá tá tá tum, tá, tum, tá, tum, tá, tum, tá tá tá mulheres! “tá tá tá, tá tum, tá, tum, tá, tum, tá, tum, tá tá tá feministas!!!
O terceiro grupo apresentou em forma de uma mobilização das Marcha Mundial das Mulheres e em meio a essa mobilização definiu-se o que seria feminismo. O feminismo é a solidariedade entre as mulheres, a luta por igualdade e liberdade, é impedir que os homens comandem as nossas vidas. Terminando a passeata com a palavra de ordem ‘Lutar, lutar, lutar pra igualdade conquistar!!!’
Após as apresentações fizemos uma discussão sobre o que é o feminismo construído pela Marcha.
Primeiro é importante dizer que não é difícil ser feminista, não precisamos sair desse mundo para sermos, precisamos sim acreditar que um mundo igual é possível. E o feminismo construído pela Marcha é luta pela transformação nesse mundo. A Batucada Feminista, o Centro Feminista e outros grupos são exemplos de que esse mundo pode ser construído e a Marcha é o espaço onde juntamos as nossas forças.
E, quando dizemos ou nos auto-definimos feministas a sociedade estranha, por isso se torna mais fácil “sermos feministas” quando estamos entre nós, entre o grupo, entre as feministas. No entanto temos que fazer com o que o feminismo esteja presente no nosso dia-a-dia, nos ajude no nosso cotidiano e não seja uma imposição e sim uma convicção.
O feminismo nos ajuda quando percebemos, por exemplo, até que ponto uma relação afetiva está sendo bom ou ruim para nós...
Temos que derrotar junto com o machismo esse sistema capitalista para assim construirmos, de fato, um mundo igual. Pois é esse sistema que impõe as mulheres um padrão de beleza, inalcançável, um padrão de vida e comportamentos e inverte os valores, como o da liberdade, por exemplo. Nisso temos que fazer uma reflexão do que realmente é essa liberdade e que significa se sentir bem... Temos que questionar a liberdade sexual, por exemplo, onde apenas um, o homem, aproveita.
Quem disse que pessoas negras têm cabelo ruim, senão esse sistema. Temos que questionar esse sistema que a toda hora nos diz tudo, o que temos que fazer e como nos sentirmos bem. Esse bem-estar é fazer a escova ou prancha no cabelo? É usar o jeans da moda? É isso que temos que questionar e alterar essa lógica de pensar da sociedade.
Após esse momento fizemos uma discussão coletiva sobre o nosso cotidiano como feministas. Foram várias as práticas que foram consideradas contraditórias com o feminismo. Listamos algumas coisas, entre estas, o trabalho doméstico, as músicas que ouvimos e dançamos, as relações afetivas, a disputa entre as mulheres, a vida na nossa casa, a cultura etc.
Nessa discussão foi muito presente a idéia de que quando estamos no coletivo somos mais fortes e mais radicais diante das expressões machistas. Quando estamos na vida normal/cotidiana fazemos coisas que sabemos que vai de encontro às idéias feminista e ainda assim fazemos.
Diante desses relatos resolvemos fazer alguns acordos coletivos para fortalecimentos das práticas individuais feministas. Depois um longo debate entramos em consenso em três acordos:
Solidariedade entre as mulheres – Não ficar disputando entre si; não brigar por homem e tentar sair de situações em que outras mulheres venham brigar conosco, também por causa de homens.
Não ouvir e nem dançar músicas machistas – listamos cinco músicas de forró, as quais não dançaremos: Trepa-trepa – Forró Safado; Tabaco a todo preço– Os Mauricinhos do Forró; Créu, Créu - Dj Sérgio Costa (Mc Créu); Bomba no Cabaré – Banda Dimetrose; Amor de Galope – Solteirões do Forró.
Divisão do trabalho doméstico – Em casa procurar dividir as tarefas domésticas com os homens e quando um homem estiver fazendo tais tarefas não achar que é coisa de mulher.
Nesse mesmo dia, à tarde, aconteceu a Plenária Regional da Marcha Mundial das Mulheres e nesse momento foram escolhidas 07 meninas representado os municípios e os grupos participantes do encontro.
Terminamos a manhã se deliciando com o almoço feito por Risoneide e Paula Gabriela, do grupo Sonhadoras de Lilás de Mossoró.
O dia 26 de Janeiro, dia mundial de mobilização contra o capitalismo, foi um dos temas discutidos no nosso encontro. À tarde fizemos um breve histórico do Fórum Social Mundial, discutimos o porquê do 26 de janeiro e sua importância para a MMM e para os demais movimentos sociais. Em seguida fizemos um novo ensaio na Batucada para nos prepararmos para o dia seguinte, dia 26 na Praça da Independência, onde aconteceria o ato público contra o capitalismo.
Ainda nessa tarde fizemos uma discussão sobre a festa do encontro. Refletimos sobre o que é uma festa e preparamos coletivamente a nossa festa que definimos por um baile de carnaval, onde as músicas a serem tocadas seriam apenas músicas de carnaval. Todas construíram suas máscaras e fantasia e nos divertimos bastante na noite carnavalesca do nosso encontro que foi regado com muito banho de piscina e coquetel de frutas.
No último dia do encontro, a saudade já chegava, mas também a alegria de está terminado mais um encontro entre as batuqueiras da região Oeste.
Nesse dia o sabor do café ficou por conta de Linda, do assentamento Barreira Vermelha e Nayara do grupo de Meninas do CAIC, ambas de Mossoró.
Fizemos uma faxina coletiva na casa socializando entre todas as jovens essa tarefa doméstica.
Mais uma vez formamos uma roda para ouvirmos a socialização da plenária da Marcha Mundial das Mulheres, que aconteceu no dia anterior e teve a representação de 07 militantes batuqueiras.
Em seguida era chegada a hora de avaliarmos o encontro e assim a fizemos. Cada menina expressava em uma frase ou palavra seu sentimento em relação ao encontro.
- Conhecimento
- Consciência
- Acordos
- “Foi maravilhoso desde o primeiro dia que cheguei”
- “Estou ficando com saudades”
- “Foi importante por que fizemos alguns acordos, que eu acredito que vamos cumprir”
- “Só fiquei triste em relação à limpeza, nos descuidamos muito e sujamos muito a casa e todo o local”
- “Foi muito importante a discussão sobre o feminismo, pois tem coisas que fazemos e não nos damos conta”
Foi essa a avaliação desse primeiro encontro de 2008.
Em seguida fomos para a Praça da Independência, onde estava acontecendo o ato contra o capitalismo desde às 6h30min. Chegamos e nos juntamos a militância de outros movimentos e sindicatos e as trabalhadoras e trabalhadores que tentavam demonstrar através de seus produtos que uma outra economia é possível, solidária, respeitando o meio ambiente e com igualdade entre homens e mulheres.
Mais uma vez a Batucada Feminista entoou a luta feminista e anti-capitalista na cidade de Mossoró.

Eram as muitas palavras de ordem: Êeee feminismo ê! Êeee feminismo ê! Êeee feminismo ê! Feminismo pra frente, machismo pra trás, lá lá lá laia ê...
Se cuida, se cuida, se cuida imperialista que a América Latina vai ser toda feminista!!!
Contra a política neoliberal são as mulheres da marcha Mundial!!
Lutar, lutar, lutar pra igualdade conquistar!!!

Mudar o mundo pra mudar a vida das mulheres!!!

7 comentários:

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